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Trabalho infantil afeta saúde mental de adolescentes e acende alerta no Setembro Amarelo

Em setembro, quando o país se mobiliza para a campanha Setembro Amarelo para a prevenção ao suicídio, especialistas alertam que o sofrimento psicológico associado ao trabalho precoce ainda é invisível para grande parte da sociedade e das políticas públicas. Então imagine a seguinte situação hipotética, porém, inspirada em relatos reais:

Aos 14 anos, Lucas (nome fictício) trocou as manhãs de escola por longas horas ‘ajudando’ no comércio da família. A rotina cansativa, somada à pressão para contribuir com a renda, não demorou a afetar seu rendimento escolar e seu humor. “Eu me sentia sempre cansado e triste, não queria mais sair com meus amigos”, conta. 

A história dele não é única. Centenas de milhares de adolescentes ‘ajudam’ seus familiares nas roças, nos comércios, nas pequenas fábricas de seus familiares — e traz à tona uma preocupação crescente: o impacto do trabalho infantil sobre a saúde mental de crianças e adolescentes.

Apesar de os números recentes demonstrarem queda nos indicadores de Trabalho infantil no Brasil, a situação ainda é grave, especialmente quando há subnotificação de casos e o surgimento de novas modalidades de exploração laboral de crianças e adolescentes. Portanto, o impacto emocional do trabalho precoce continua alarmante. 

Dados do Ministério da Saúde apontam que a inserção prematura no mercado de trabalho pode provocar fragilização do desenvolvimento emocional, prejuízos sociais e psicológicos, além de elevar o risco de acidentes, estresse crônico e perda de bem-estar geral. A sobrecarga física e emocional, a exposição a ambientes hostis e a interrupção de ciclos escolares deixam marcas duradouras, que podem incluir ansiedade, depressão e baixa autoestima. Em casos extremos, como na exploração sexual ,considerada uma das piores formas de trabalho infantil,  o trauma pode levar a transtornos graves e pensamentos suicidas.

A invisibilidade do trabalho infantil na saúde mental

O trabalho infantil e suas piores formas não recebe a devida atenção, em suas múltiplas correlações e consequências, da área de saúde mental infanto-juvenil. Invisibilizado de modo geral, não há protocolos específicos para crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no que se refere à saúde mental. Para o FNPETI, isso limita o alcance de políticas de proteção e acolhimento.

“A prevenção ao suicídio também passa por garantir que nenhuma criança ou adolescente tenha seus direitos violados pelo trabalho precoce. Cuidar das infâncias e das adolescências, principalmente, em territórios vulneráveis, significa cuidar de todos os aspectos que envolvem a saúde. E olhar para a saúde mental de crianças e adolescentes que estão em situação de trabalho infantil – em qualquer uma de suas formas, em especial, àquelas ligadas às novas tecnologias – é prevenir transtornos mentais e ideação suicida”, afirma Katerina Volcov, secretária-executiva do FNPETI.

O Fórum defende ações coordenadas e intersetoriais para unir as agendas de combate ao trabalho infantil e de promoção da saúde mental; capacitação de profissionais de educação, da saúde e da assistência social para identificar sinais de sofrimento psíquico relacionados ao trabalho precoce; e a criação de protocolos de atendimento na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) voltados especificamente para esse público, por exemplo.

Enquanto o Setembro Amarelo reforça que “falar é a melhor solução”, o FNPETI lembra que, no caso do trabalho infantil, investir em proteção às infâncias e às adolescências significa ter políticas públicas e estratégias de identificação, de encaminhamento e de cuidado, inclusive em saúde mental, para crianças, adolescentes e suas famílias.